terça-feira, 24 de agosto de 2010

ANTES DE NASCER (MICRO CONTO)

Antes de nascer.

Eu estava na fase de formação no útero de minha mãe desde a trajetória do espermatozóide de meu pai até o ovulo de minha mãe, eu já estava me sentindo vivo e após a fecundação eu já sentia as emoções de minha mamãe. Eu estava ligado a cada artéria de seu corpo sentindo a sua alegria, tristeza, amor, felicidade, angustia e dor.
E ao mesmo tempo eu mexia nas emoções dela sem ela saber de minha existência.
Eu estava apenas com dois dias de formação e já me sentia vivo e repleto de alegria dentro daquele ovulo.
Tudo estava ótimo eu estava chegando a uma família unida e cheia de amor para compartilhar comigo.
Eu já podia observar o mundo através dos olhos de minha mamãezinha e no dia em que ela foi ao jardim eu observei as mais belas flores e suas lindas cores uma mais maravilhosa que a outra.
E no meu terceiro dia de formação eu já pensava comigo: sempre nos dias das mães eu vou pegar as mais belas flores e presenteá-la com todo o meu amor e minha gratidão de estar vivo e de ser o seu filho.
Já após uma semana de fecundação eu sentia minha mãe tocar em minha face e ouvia a sua voz que chegava até meus pequenos ouvidinhos. Nós estávamos ligados por um elo lindo chamado vida. Eu era a formação de uma nova vida dentro de minha mãe.
Eu já estava crescendo e vendo tudo ao redor através de minha mamãe que era a minha proteção do mundo exterior.
Já no meu primeiro mês de formação eu podia ouvir o coração de minha mamãe que nem desconfiava que eu estivesse me formando em seu útero.
Minha formação mexia com as emoções de minha mãe tinha dias que ela só chorava sem motivos, mas o motivo era eu que mexia no seu sistema hormonal, mas mesmo eu sabendo que era eu que fazia minha mãe chorar eu não gostava de ver ela naquele estado eu queria sair logo e ajudá-la a secar as lagrimas.
Eu me sentia mal ao vê-la naquele estado de tristeza e agora eu estava no meu segundo mês de formação e minha mãe começou a ficar mal com dores de cabeça, febre, e ânsia ela vomitava muito.
Minha mãe não sabia o que estava acontecendo, pois ela ainda era jovem, ela só tinha 18 anos de idade e meu pai tinha apenas 19 anos dois adolescentes com outra vida a caminho para cuidarem.
Minha mãe então não estava mais agüentando as dores que estava percorrendo o seu corpo e então ela resolveu nos levar ao hospital e eu fui, pois fazia parte de seu corpo.
Ela então foi examinada e algo gelado foi colocado em sua barriga para descobrir o que ela estava sentindo e qual o motivo.
Então o medico me visualizou pela tela de uma TV e avisou a minha mãe que estava grávida.
Ela sentiu uma alegria ao saber que gerava um fruto em seu útero, mas essa alegria não durou muito, pois pela primeira vez eu ia sentir a dor mais doida do mundo o abandono.
Minha mãe chegou à casa feliz e esperou o seu namorado para falar sobre a minha formação.
E quando ela se encontrou com o meu futuro papai ela chegou abraçando ele e dizendo amor agora mais do que nunca nós precisamos ficar unidos, pois eu estou gerando uma vida.
E meu pai muito jovem e imaturo falou: como assim um filho?
Mulher você esta grávida?
Sim amor eu estou grávida e já faz três meses.
Eu não posso ser pai você vai ter que tirar essa criança.
Eu ouvi toda aquela discussão e nada podia fazer, pois ninguém ouvia a minha voz.
Eu estava me sentindo como um estorvo na vida daquele casal.
Meu pai que eu tanto admirava agora se transformou num monstro sem alma e coração.
Ele brigou com a minha mamãe e disse que não queria um filho e que não queria nem saber de mim.
Eu gritava que os amava, mas esse meu grito não chegava aos ouvidos deles.
Eu queria um dia passear no parque com meu pai comprar sorvete e aprender a andar de bicicleta eu também queria fazer de tudo para minha mãe nunca chorar por minha causa, mas tudo o que eu queria não passou de um querer.
Eu imaginava recebendo carinho de minha mãe e esperando a bandeja suja de massa de bolo para lamber.
Eu me via sentado na sala com o meu pai assistindo jogo de futebol e torcendo pelo mesmo time que o dele.
Eu sonhava em aprender dirigir com meu pai e depois ajudar a lavar as louças para minha mamãezinha, mas isso não será possível.
Hoje no meu quinto mês de gravidez meu pai não esta presente ele deixou a minha mãe assim que soube de minha existência e agora ela esta só com uma criança sendo gerada.
E mais uma vez ela vai ao medico, mas dessa vez é uma clinica estranha com uns médicos esquisitos e uns aparelhos que me causaram sustos.
Minha mãe então se sentou muna mesa com as pernas abertas e alguma coisa começou a invadir a minha casinha era um cano estranho com uma hélice na ponta.
Eu fiquei assustado e comecei a gritar pedindo por ajuda e minha mãe não me ouvia.
Quando aquele cano perfurou a minha casinha minhas lagrimas de choro escorreu pelas pernas de minha mamãe, mas nem assim ela pedia para os médicos pararem de invadir a minha casinha eu já estava ficando com muito medo do que estava acontecendo.
Eu gritava, chorava pedia ajuda e ninguém me ouvia.
Perguntava-me mãe: por que a senhora esta deixando fazerem isso?
O que eu fiz de errado para receber esse castigo?
E a cada pergunta minha algo me penetrava.
Mãe eu nunca vou te fazer sofrer eu te amo.
Mãe tem algo arrancando a minha perninha, mãe isso esta doendo muito.
Mãe agora ele esta arrancando a minha outra perninha mãe por que você não me ouve?
Isso esta me machucando, mãe por que a senhora esta fazendo isso comigo o que foi que eu te fiz de errado?
Mãe por que meu grito não te comove?
Estou morrendo mesmo antes de sentir o gosto da vida.
Essa mesma vida que deveria me dar vida me deu uma eterna dor.
Eu sempre sonhei em estar com você e quando papai do céu me chamou para ser a alma de seu filho eu aceitei.
Então mãe por que fazes e deixas fazerem isso comigo?
Foi pelas dores que eu te causei?
Ou foi pela sua barriga ter aumentado tanto?
Responda-me mamãezinha qual foi o meu erro?
Antes de nascer eu sempre sonhei em ver o seu rostinho sorrindo para mim e a sua voz delicada me chamando pelo quintal para almoçar.
Eu queria descobrir com você mamãe o que era o amor.
Mas vejo que depois de hoje nada disso será possível, pois antes de eu nascer você me abortou.
Minha alma que procurava por um corpo para viver novamente tem que voltar para os braços de Deus, pois o amor de uma mãe nesse mundo pode ser destruído por seus próprios erros e medo da vida e por não encontrar um homem capaz de assumir o seu papel de pai.
E agora vejo que nada mais vai acontecer, pois eu morri antes de nascer.
Papai e mamãe eu os perdôo por mais que seja doloroso, mas minha alma não poderá mais nascer nessa terra carregada de ódio, fraqueza, solidão e repleta de guerra entre familiares.
Antes de nascer eu entendi o quanto vale o amor de uma mãe e esse amor eu não quero mais.



Autor: Elvis poeta de rua.
Elvis da silva salgueiro

Um texto sobre a vida ou a sua morte.

sábado, 21 de agosto de 2010

Aborto





Mesmo antes de nascer já fui condenado
E sem mais nem menos de seu corpo fui arrancado
Eu não pedi para vir a esse mundo complicado.
Mas por causa do seu amor não amado acabei sendo abortado.

Fui retirado de seu útero
E condenado pelo seu erro
E por não ter voz para falar
Acabei sendo morto

Meu corpo em formação
Faz bater meu coração
Meu choro por mais alto
Não te da emoção

Vi para ser gerado
E ser criado como filho
Mas por não ter pai
Acabei sendo banido.

Não fui gerado pelo amor
Pois o mesmo só me trouxe dor
Deixarei aqui nesse mundo retalhos do meu corpo
Pois a minha alma se foi com o aborto

Autor: Elvis poeta de rua

quinta-feira, 5 de agosto de 2010